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Foto do escritor Elânny Vlaxio

Eleições: Jovens sobram no TikTok e faltam nas urnas

Para atrair público às urnas, coletivos incentivam ao voto consciente e candidatos engajam campanhas eleitorais nas mídias sociais

Aos 16 anos, a manauara Vitória Eloísa gasta seis horas ao dia passando a tela do Tik Tok. Depois migra para o Instagram e intercala o uso das mídias, respondendo aos contatos no WhatsApp. Essa é uma rotina de consumo digital presente na vida de 96% dos pré-adolescentes e jovens no Brasil, aponta estudo da empresa McAfee.

Em contrapartida, Samuel Magalhães, de 15 anos, vê na internet potencial de consumo de informações e notícias. “É mais fácil e mais rápido”, justifica. “Diferente do que vemos na TV ou no rádio que pedem maior concentração, aqui [na internet], a leitura é rápida e fácil de entender”, complementa.

Além do consumo diário, ambos têm em comum o desprezo por pautas políticas. “Não me interesso [por política]”, diz Samuel. “Acho que as pessoas criam confusão por não aceitarem as escolhas de outras pessoas”, justifica. “Fora que a linguagem é longa e chata de entender”, complementa Vitória.

A presença quase majoritária de jovens e adolescentes nas mídias sociais fez com que, nos últimos anos, personalidades, entidades e instituições migrassem para a internet, com a produção de conteúdo adaptada à linguagem das redes. Esse consumo massivo, no entanto, não se reflete no engajamento orgânico do jovem em pautas políticas.

Apesar de, em 2022, o Brasil ter alcançado um recorde histórico de eleitores, com 9,1 milhões a mais do que em 2018, conforme o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a participação de jovens e adolescentes nas urnas ainda não alcança a totalidade.

Incentivo ao voto

No Amazonas, até julho deste ano, foram registrados 229.297 eleitores aptos ao voto na faixa de 16 a 20 anos, segundo o TSE. No mesmo período em 2018, apenas 217.445 eleitores da mesma idade se registraram para participar do pleito.

Incentivar o debate político na vida de jovens e adolescentes não é uma ação tão simples. Tanto é que o próprio TSE tem recorrido a artistas populares, como medida para transformar esse cenário e fazer com que adolescentes e jovens emitam e regularizem o título de eleitor. Emicida e Anitta falaram sobre o assunto em festivais e shows.

Este ano, o tribunal reconheceu o Amapá como o estado menos engajado na campanha. Isso motivou o coletivo Utopia Negra a promover, de forma independente, a ação “Juventude amapaense com o primeiro voto”, cujo objetivo é estimular o público de 15 a 20 anos de idade a participar das eleições.

Os resultados têm sido animadores, já foram contabilizadas 119 emissões do primeiro título.

“Os jovens não têm interesse por política e isso os afasta da pauta. Outro agravante é o precário acesso aos serviços públicos, sempre muito central e excludente no sentido de desconsiderar o jovem das periferias, dos distritos e dos quilombos”, afirma Luana Darby, coordenadora do coletivo.

Ela complementa que “um post no Instagram não muda um pensamento”, mas aliado a um “movimento duplo, que englobe o ambiente digital” pode dar certo e ajudar a propagar a ideia de que “a juventude preta pode se apropriar de novos espaços e formar lideranças”.

Em paralela, o Comitê Chico Mendes, no estado do Acre, já conseguiu emitir mais de 1.652 títulos com o incentivo ao “Voto Pelo Clima”, por meio da colagem de cartazes em escolas e posts nas mídias sociais, fruto da ação “Jovens das Florestas #BoraVotar – te avexa manim!!!”.

“Incentivamos o primeiro voto, realizamos cursos para candidatos e propagamos a campanha de ‘Voto Pelo Clima’”, enfatiza Bruno Pacífico, coordenador do comitê.

Democracia on-line

As mídias sociais têm ganhado espaço como porta voz da informação, chamando a atenção principalmente dos futuros eleitores. No Tik Tok, por exemplo, jovens utilizam o #RightTikTok e #LeftTikTok para se posicionar ideologicamente.

“A influência nas mídias sociais é uma importante ferramenta de mobilização. O desafio, no entanto, está em trazer as pessoas para as ruas. Afinal, como fazer com que os jovens falem de política nas redes sem parecer algo ‘chato’?”, pontua Ernan Passos, diretor da UJS (União da Juventude Socialista).

“Por isso, estudamos os comportamentos nessas redes. Desde o visual até os vídeos curtos e a inserção de pautas identitárias que chamam atenção”, complementa Passos.

Em pesquisa divulgada pela empresa mobile Data. AI, os brasileiros passam mais de cinco horas diárias conectados em aplicativos no smartphone, sendo o TikTok, o aplicativo mais acessado dos últimos tempos.

A especialista em marketing digital Jamile Galvão explica que as mídias sociais são utilizadas como estratégia política por candidatos desde as últimas eleições, e que, apesar de ser um meio para se informar, também deve ser analisada com cuidado.

“Acredito que as mídias sociais não são uma nova estratégia. Inclusive, o atual presidente se elegeu com essa força dentro da internet. As plataformas políticas conseguem trabalhar suas ideias dentro dos grupos e nichos que precisam se fortalecer”, afirma.

“Temos que ter cautela, pois existem ferramentas que manipulam a opinião pública. É um momento para entender como funciona esse pensamento para que a sociedade não confunda essas manipulações com a verdadeira opinião”, complementa.

Mídias sociais são os novos ‘santinhos’

Segundo pesquisa de 2020 do Ibope Inteligência, metade dos usuários brasileiros de mídias sociais seguem algum tipo de influenciador digital, sendo 75% adolescentes e jovens de 16 e 24 anos, e 56%, pertencentes a classe A.

Influenciadores digitais passaram a ter um papel de construção importante para o debate político eleitoral no Amazonas. A crítica – ou o apoio – a determinados candidatos pode influenciar um seguidor.

A exemplo disso, em pré-campanha, em maio deste ano, o ex-prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) se reuniu com influenciadores digitais no Amazonas, como a blogueira Thay Abreu, que tem mais de 100 mil seguidores no Instagram.

“O político vai ser muito mais conhecido se tiver a possibilidade de ser divulgado em alguma rede social por um influenciador, mas se não houver conteúdo ou se o conteúdo for ruim, pode funcionar ao contrário. Então, maior visibilidade sim, mas se isso vai contar como ponto positivo vai depender muito da forma que esse político vai se expor”, explica a advogada especialista em direito eleitoral, Maria Benigno.

No Amazonas, dos oito candidatos ao cargo de governador do estado, seis utilizam as redes sociais para dialogar com esse público. Amazonino Mendes (Podemos) e Ricardo Nicolau (Solidariedade) utilizam o Tik Tok para divulgar a campanha seguindo as trends do aplicativo, com uma linguagem diferente da que é usada em debates na televisão, por exemplo.

Pauta coletiva e a retomada do poder pela juventude

Em Manaus, as candidaturas coletivas estão cada vez mais comuns, também sendo utilizadas como estratégia política para representar não apenas adultos como também adolescentes e jovens manauaras. Somente neste ano, foram confirmadas cinco candidaturas nessa modalidade, sendo uma delas a Bancada das Manas (PCdoB).

“A juventude precisa ser reconectada com a política”, alega Michelle Andrews, representante das Manas. “Uma candidatura coletiva tem caráter de novidade e pode atrair atenção dessa parcela do eleitorado”.

“O ‘coletivo’ representa a retomada do poder pela juventude, a retomada de fala, de pautas, de vozes, de visões”, propõe Mel Angeoles, articuladora cultural do Namaloca.

Angeoles explica que, no coletivo, “juventude conversa com juventude”, porque “as experiências que vivem são parecidas”. Ela complementa que é por meio do diálogo e da escuta que os jovens passam a ser inseridos nos debates políticos.

“Nós podemos fazer a diferença nessas eleições, reafirmando a influência diretamente na nossa vida”.

O coletivo Namaloca, na última grande ação chamada de #VotoPeloVoto, conseguiu mais de 300 novos títulos retirados e regularizados.



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