É inegável que o jornalismo desempenha um papel relevante para a manutenção e o fortalecimento da democracia brasileira. O direito à informação e a uma imprensa livre foi uma conquista da sociedade civil organizada após anos de repressão e censura. Mas, no Brasil dos últimos anos, assim como diversos outros atores democráticos, o jornalismo está em crise ━ e essa crise é financeira, política, ética e de credibilidade.
Foi nesse contexto que surgiu a Abaré, três anos atrás, como uma tentativa de oferecer uma perspectiva jovem e amazonense de contribuir com o jornalismo. Desde o início, acreditamos que o enfrentamento desta crise passa pela educação, pelo diálogo mais amplo e transparente o possível com o povo.
Nossa resposta está, também, na alfabetização midiática, regulação e análise crítica da mídia. É preciso fortalecer o jornalismo local, as iniciativas de comunicação popular e a formação universitária. E isso tem que ser feito de forma coletiva entre o Estado, agentes privados e a sociedade.
Acreditamos que a educação é a melhor forma de ‘furar a bolha’ e democratizar o jornalismo, mas concentrar atividades sobre a profissão em salas de aulas, dentro de universidades e grupos de pesquisas não é o suficiente. É necessário expandir o conhecimento do que é a mídia e do que é informação.
Em abril de 2021, no aniversário de um ano da Abaré, publicamos um editorial em que afirmamos que nossa existência como coletivo, por si só, era uma contranarrativa ao discurso hegemônico da mídia concentrada no Sudeste sobre o nosso território.
Como residentes de bairros periféricos de Manaus, presenciamos diariamente uma mídia que não nos representa. Por isso, quando bradamos “Jornalismo sim”, nosso grito é em defesa de um jornalismo que não limite nossos corpos ao noticiário policial, que ouça e paute as nossas demandas, que não seja produzido por uma maioria de homens, brancos, ricos e héteros.
Na pandemia, focamos nossas atividades no ambiente virtual, mas, com a vacinação e as flexibilizações, passamos a realizar também oficinas em escolas e outros espaços públicos, produzimos pesquisas e levantamentos sobre a qualidade do jornalismo manauara, além de reportagens especiais. De pouquinho em pouquinho, vamos construindo o jornalismo que sonhamos.
A Abaré é construída a muitas mãos. Somos pessoas completamente diferentes, mas com algo em comum: a crença de que ainda há esperança para o jornalismo. Nestes três anos de jornada, encontramos diversas pessoas que compartilham desta certeza. Chegamos aqui mais fortes do que nunca e nos preparando para chegar ainda mais longe. O caminho é longo, mas vale a pena acreditar.
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