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Foto do escritorCelina Pinagé

A voz de pessoas com deficiência no combate à crise climática

Enquanto os diálogos sobre a crise climática se ampliam, um dos grupos mais afetados parece não estar em evidência: precisamos falar das pessoas com deficiência


Karine Elharrar, em cadeira de rodas, ao lado de uma mulher e um homem, todos de máscaras e vestindo roupas sociais, em um tapete vermelho durante evento oficial do governo israelense.
Ministra israelense Karine Elharrar não conseguiu participar da COP 26 por falta de acessibilidade no principal evento ambiental. (Foto: Amir Cohen/Reuters)

Nos últimos anos, o debate sobre a crise climática ampliou-se a falar sobre como os grupos socialmente vulneráveis são atravessados pelas mudanças do clima e suas demais consequências. No entanto, os diálogos sobre justiça climática ainda deixam de fora um dos grupos mais ameaçados pelas mudanças climáticas: as pessoas com deficiência.

Historicamente, grupos marginalizados tendem a sofrer ainda mais com as desigualdades perante as mudanças climáticas e os riscos ambientais, principalmente quando os direitos básicos, garantidos perante a lei, não são integralmente assegurados.

As pessoas com deficiência enfrentam constantemente barreiras estruturais que colocam suas vidas em perigo durante desastres, desde problemas com infraestrutura inacessível e sistemas de transporte, até altos níveis de pobreza, voz limitada na governança cívica e dificuldades de comunicação. Isso pode resultar em negligência, abandono e até morte em casos de desastres naturais, bem como ameaças à saúde, segurança alimentar, água, saneamento e meios de subsistência para pessoas com deficiência.

Essas barreiras tornam-se ainda maiores quando pensamos em possíveis intersecções – Como uma mulher indígena surda é atravessada pelas mudanças climáticas? Como um homem preto cadeirante enfrentaria possíveis desastres ambientais? A diversidade também precisa ser pensada através das múltiplas deficiências existentes e das várias realidades que se encontram essas pessoas.

A COP 26 maior conferência internacional sobre mudanças climáticas se propôs a abraçar essa diversidade e pensar, de forma coletiva, em uma justiça climática acessível e inclusiva, porém, na prática, vimos que isso ainda está longe de se tornar realidade.


Acessibilidade para além do discurso

“Faltar acessibilidade em um evento global da proporção da COP 26 comunica mais uma vez que a crise climática não está sendo tratada com a seriedade necessária. [...] Muito tem se falado sobre como o sul global sofre desproporcionalmente os efeitos da crise climática e não dá pra continuar excluindo nós, pessoas com deficiência, do debate e das decisões. Testemunhar esse atraso no começo da década que vai definir o futuro da humanidade é desolador”, disse Matheus Ferreira, comunicador social e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência.

"Deveríamos estar empoderando todas as pessoas a terem condições de se informar e influenciar o debate climático, porque a nossa vida e futuro está sob ameaça"

Em novembro de 2021, a ministra de Israel, Karine Elharrar, estampou diversos jornais ao ter sua entrada na COP negada por falta de acessibilidade. Além dela, diversos membros da sociedade civil relataram um enorme despreparo organizacional para com questões de acessibilidade, isso confirmou o que já era imaginado: acessibilidade ainda não é uma prioridade para a maior parte das pessoas – e nem mesmo para as grandes organizações.

Enquanto governos, cidades e empresas estão desenvolvendo estratégias de mitigação e adaptação para responder a diversos riscos climáticos, há pouca ou nenhuma inclusão de pessoas com deficiência nesse planejamento.

Uma estimativa sugere que 200 milhões de pessoas serão refugiados climáticos até 2050. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 15% da população global tem algum tipo de deficiência, logo cerca de 30 milhões desses refugiados climáticos precisarão de diferentes tipos de suporte.

Não é possível pensar em adaptação climática sem olhar para a acessibilidade. Pessoas com deficiência precisam estar na linha de frente no combate às mudanças climáticas e nossas demandas precisam ser ouvidas. Justiça climática sem pessoas com deficiência é justiça para quem?

 

Este conteúdo foi produzido com apoio do programa Jornalismo e Território, da Énois Laboratório de Jornalismo. Para saber mais, acesse www.enoisconteudo.com.br ou @enoisconteudo nas redes sociais.


Equipe Énois

Formação: Danila de Jesus e Sanara Santos

Coordenação Jessica Mota

Edição e mentoria: Camila Simões

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